Lá fora o cinza tomou conta do céu

Lá fora o cinza tomou conta do céu
mas aqui dentro a noite está tão escura
e não existem luzes dicroicas

Lá fora, começam a pingar as primeiras lágrimas dos céus
e elas banham as calçadas por onde andei
só e sem rumo
e lavam meus pecados (como disse a música) e minhas virtudes

Aqui dentro... a noite se faz
uma noite em que não existem luzes frias
uma noite que não se corrompe com luzes artificiais.

Não, este puro breu não me assusta
Nesta noite de puro escuro, brilham apenas estrelas
e as fito enquanto ardem em meus olhos

Sim, eu reconheço
estas luzes já chegaram há muito tempo
e sim, se elas já existiam antes mesmo de mim
e se só agora flamejam em meus olhos lacrimosos
se passavam desapercebidas,
é porque eu estava iludida pelo dia comum
ou pelas luzes simuladas à volta

Eu sei que lá fora o mundo se amotina
nada conspira como eu gostaria
até o tempo é sádico
e a lágrima fria do céu se solidifica
e então pedras são lançadas contra minha janela
Sim o céu está com inveja da minha noite particular
e lança pedras em minha janela
mas minha noite é tão maior

Sim eu vejo estrelas no teto
Mesmo quando fecho meus olhos
e vários sóis tomaram conta de mim
Está tão quente aqui...
... (mesmo que as pedras de gelo rompessem as vidraças não resistiriam dois segundos)

Lá fora o cinza tomou conta do céu
mas aqui dentro a noite está tão escura
e mesmo efêmera é tão perpétua, tão divina
e não existem luzes dicroicas que agora possam me cegar
que acredito piamente ter-se me revelado um universo particular paralelo

Não importa que a chuva tenha lavado as ruas onde andei
ela já afogou também muitos sonhos
Não importa quantas pedras o céu lance em minha janela
ou quantas floreiras esmague (por mero despeito) com essas suas lágrimas frias
Aqui dentro está tudo tão perfeito

Que não existem mais luzes artificiais que ofusquem o brilho da minha própria constelação.

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